Sobre Igreja e mídia:
Além da evangelização através da mídia, utilizam-se dos meios de comunicação para promover guerra política contra qualquer político - no poder ou concorrendo ao mesmo - cujos ideais divirjam de seus pontos de vista políticos e morais. pg. 111
Não se pode questionar a correção da "Moral Marjority" através da mídia. ela está exercendo seu direito conforme a Constituição - de se fazer ouvir e tal direito deve ser respeitado. Devemos, porém, enfrentar as consequências de tanto poder - através da mídia - concentrando em mãos de um grupo determinado a afetar padrões morais, éticos e políticos de um país. A aliança original entre a religião e o rádio pode tornar-se uma das mais poderosas da historia - uma aliança entre Deus e este segundo deus que é a mídia. pg.112
Sobre política e mídia:
Diz-se que os debates concedem tempo para os candidatos pensarem sobre os assuntos, mas esse "tempo" varia de 30 a 120 segundos para responder a perguntas do tipo: "Como o senhor reorganizará a economia?", "Quais são os maiores problemas do país?", "Que medidas irá adotar?", "Como irá tratar de problemas como o crime, educação e desemprego?" Com espaços de 30 a 60 segundos, o rádio e a TV também concedem tempo similar para que o candidato faça uma declaração sobre qualquer aspecto de sua campanha, mas longas horas de meditação podem anteceder a preparação desta intervenção de 30 a 60 segundos. Para prepará-las, o candidato não tem de caminhar com seus próprios pés, ele conta com o auxílio de escritores e estrategistas, pesquisadores e produtores.
A intenção desses debates e outros noticiários ou comentários livres orientados ara um assunto conflitante, é focalizar os problemas do candidato ao invés dos problemas dos eleitores e desencorajar a evasão de eleitores no dia da votação, transformando o processo eleitoral em um jogo cujos vencedores serão anunciados na noite da eleição. Esta situação estimula o candidato a confiar em uma quantidade significativa de comerciais pagos, panejados para associá-lo aos problemas dos eleitores. Os profissionais que um candidato contrata para trabalhar na campanha são de importância vital. (...)
A mídia tende a acentuar as desigualdades financeiras entre os candidatos. O candidato que dispõe de amplos recursos ou de apoio financeiro, leva uma tremenda vantagem sobre os outros pois pode comprar mais tempo publicitário e literalmente tornar seu nome familiar. Até recentemente, as empresas e as pessoas com recursos podiam manipular o poder político através do apoio financeiro a um candidato, mas a nova legislação sobre a captação de fundos para eleições restringiu muito essas contribuições.
Com a introdução da mídia na política, uma campanha eleitoral assume novas formas e dimensões e depara com novos empecilhos. No entanto, os benefícios parecem contrabalançar as desvantagens: o candidato precisa ser objetivo e convincente, senão corre perigo do ouvinte aborrecer-se e desligar o aparelho de rádio ou TV; o candidato goza de acesso a todos que podem votar, e não somente a seus partidários; um candidato pode fazer com que os jovens se interessem pelo processo político mesma antes de estarem capacitados a votar. pgs. 118 e 119
Sobre ensino:
A função do professor estará mais em harmonia com a realidade quando ele compreender como e porque a mídia tornou o domínio da leitura e da escrita menos importantes para a criança. O papel da escola deixou de ser organizar a distribuição da informação, mas o ensino de como os alunos devem lidar com a informação, que é agora comum a todos; numa palavra, a escola devem ensinar os alunos a pensar e a utilizar a TV, rádio, a leitura, a escrita e toda e qualquer forma de comunicação como instrumentos no processo de aprendizado. Devido à sobrecarga de informações a função da escola é auxiliar os alunos a selecionar adequadamente esse fluxo de informação que poderá oprimi-los. O papel do professor deveria incluir ensinar às crianças como estruturar e classificar informações que elas já possuem e estão constantemente recebendo. Muitos poucos professores adotam essa abordagem e as crianças pagam o preço dessa falha dos mestres, desinteressando-se pela escola. pg.130Aqui preciso tecer o comentário de que constantemente proponho isso aos meus professores de ensino técnico, e raramente eles dão esse foco às atividades, a parte boa, é que como falo isso abertamente em sala de aula, os colegas acabam ouvindo e quem sabe um dia, percebam que esse é o único meio de aprendizado tranquilo e significativo.
Robert Frost comentou que "o ensino nos persegue até que nós o percebamos". Certa vez Buckminster Fuller escreveu: "Os seres humanos desenvolveram a palavra para que possamos comunicar nossa experiência: isso é ensino". Acrescentou ainda que no mundo moderno cada criança que nasce depara-se com mais informações dignas de confiança. Fuller não estava preocupado se a informação era absorvida através da leitura, da historia em quadrinhos ou da televisão. "As crianças vão se agarrar de qualquer meio, e apossar-se da TV, isto é realmente maravilhoso. Um problema evidente é que estamos usando a televisão como um meio para ganhar dinheiro - vender pasta de dente etc. As crianças, todavia, não estão realmente interessadas nessa informação, mas em seu funcionamento. Elas adoram a técnica e a estudam o tempo todo. Elas absorvem muito mais do uso da linguagem que a mensagem", afirmou Fuller.
Como Frost poderia ter indagado, a verdadeira questão é: "Como é que seguimos o pensamento de outras pessoas?" O meio através do qual o fazemos não é importante.
Basicamente a relação entre a leitura e a televisão não é mais antagônica do que a relação entre o cavalo e o automóvel. O cavalo e o automóvel não sentem raiva um do outro. São os cavaleiros que se irritam com o automóvel, e os professores orientados pela palavra impressa irritam-se com a televisão, quando, na verdade, é possível uma coexistência pacífica. pg. 131
Uma revolução está prestes a ocorrer no campo da educação: a revolução na biblioteca. Com o rápido desenvolvimento da transmissão de textos a distância, em breve não haverá necessidade de biblioteca com sua estrutura de hoje em dia. A biblioteca do futuro será um centro eletrônico contendo fitas ou discos magnéticos com linhas conectadas a terminais de vídeo. Não será necessário, por exemplo, trazer uma fita para casa, porque o "consulente" estará eletronicamente ligado à biblioteca, onde um dispositivo irá transmitir o som daquela fita para o escritório, a escola, o lar. (...)
Para finalidade de estudo, pesquisa ou simples divertimento, muitas pessoas ainda irão desejar ler ao invés de ouvir uma fita sobre determinado assunto e neste ponto a nova biblioteca também será importante. Estamos agora testemunhando uma explosão da transmissão eletrônica da palavra impressa. Agora você pode comprar um dispositivo, conectá-lo ao seu telefone, e receber material - de qualquer banco de dados do mundo - que será "impresso" na tela de sua televisão. Em breve poderemos receber em forma impressa - através de nossa televisão - qualquer tipo de material publicado: jornal, noticiário, livro, catálogo. A nova biblioteca poderá "datilografar" este material impresso na tela de seu aparelho de televisão e desta maneira fornecer-lhe o assunto de leitura que você escolheu. A tela de sua televisão e os alto-falantes de seu amplificador serão sua biblioteca particular. Você não precisará ir à biblioteca para pegar material. A biblioteca e suas informações virão à sua casa.
Esta nova capacidade eletrônica sugere que em muitas situações a educação se tornará, em breve, parte do processo de trabalho. Você poderá aprender no momento em que surgir tal necessidade de aprender, o processo educativo torna-se mais simples, mais envolvente e duradouro. pgs. 136 e 137
Algum dia a biblioteca - como também a escola -, não mais será o local onde os alunos passam várias horas por dia. Ela se tornará um estúdio ou um centro de transmissão para difundir conhecimento extensivo. Até o momento não podemos precisar os efeitos da nova tecnologia sobre os padrões de trabalho e sobre os ambientes. Podemos somente dizer que a nova tecnologia irá provocar amplas mudanças à medida que a educação moderna , lentamente, e com uma certa relutância, entra na era eletrônica. pg.138
Sobre trabalho:
Um estudo recente demonstrou que atualmente a maioria da comunicação cara a cara em grandes escritórios acontece somente quando as pessoas se encontram a menos de 24 m de distância umas das outras. Há uma tendência a utilizar o telefone quando as distâncias são maiores. Um amigo, superintendente de uma agência de publicidade, fez uma experiência com a finalidade de verificar o quanto ele realmente precisava ir ao escritório para trabalhar. Durante toda aquela semana, ele só precisou ir ao escritório três vezes para tratar de negócios relacionados ao trabalho. 99% das tarefas podiam ser realizadas em casa. pg.144
Poderá ocorrer uma mudança significativa nos padrões de trabalho: os novos sistemas de comunicação podem substituir as viagens de negócios. Além disso, um número maior de pessoas irá trabalhar em casa, utilizando-se da nova tecnologia para operar os negócios, conectando-os a escritórios centrais. Antes de determinar o local para instalação dos escritórios centrais, as indústrias irão prestar maior atenção às redes telefônicas disponíveis, sistemas de cabos e ligações via satélite.
São dramáticas as implicações potenciais dos novos serviços de comunicação entre os indivíduos. Esta tecnologia, e os serviços por ela oferecidos - ou não -, irão afetar a qualidade e caráter de nossa comunicação a qual pode desenvolver-se à maneira do telefone, com seu conteúdo determinados pelos usuários. na verdade, esperamos que os novos serviços complementem, e não substituam, o contato interpessoal, criando novos tipos de interação entre as pessoas. O desenvolvimento pode seguir qualquer um dos caminhos.
A nova tecnologia permitiria que o público dispusesse de mais fontes de informação, o que poderia romper o tipo de informação comum fornecida pela TV, Durante os anos 60 e 70, a fonte de informação era uma só: a televisão. pg. 155No/a governo/governança:
As novas tecnologias da comunicação proporcionaram um meio de feedback instantâneo: todas as pessoas- sem sair de casa - podem pressionar uma tecla e votar ou emitir uma opinião sobre questões públicas. Isso pode gerar uma maior participação política, mas também menos volantes do que as eleições atuais. Se de fato isso acontecer, a resposta lógica seria incorporar formalmente ao governo o novo processo de comunicação. O público poderia votar diretamente em assuntos políticos e na legislação. Nestas circunstâncias muitos funcionários eleitos poderiam ser substituídos por administradores cuja tarefa seria apresentar questões para votação pública, o que induziria um aceleramento em nível governamental. As mudanças na política e na legislação poderiam ocorrer mais rapidamente, os ciclos de recessão e recuperação reduzir-se-iam a poucas semanas, pois as alterações políticas e sociais ocorrem na medida em que aumenta o fluxo de informação.
Indubitavelmente o uso das novas tecnologias de comunicação no governo de um país será acompanhado por inúmeros problemas. Poderia ser proveitoso considerá-los de modo mais profundo porque a tecnologia pode conduzir a importantes resultados políticos e sociais imprevistos, não obstante inevitáveis. Tais tecnologias podem conduzir a uma reestruturação do governo - logo, elegemos alguns representantes. No entanto, o advento das novas tecnologias pode provocar uma reestruturação a nível governamental: nós podemos estar no governo, não precisamos representantes, porque agora nós somos os nossos próprios representantes.
Trechos do livro "Mídia: o segundo deus" de Tony Schwartz, tradução de Ana Maria Rocha. Editora Summus. São Paulo. 1985.
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